26 de junho de 2015

EXPRESSÕES ARTÍSTICAS DA PERIFERIA É CRIME

Oprimir, torturar e matar pobres que manifestam contra as ideias dominantes no Brasil não é exclusividade do período da ditadura militar. Hoje, 30 anos depois do fim do regime militar, artistas do grafite e pichadores ainda sofrem a violência repressiva do Estado e da sociedade. Quase um ano depois da morte dos pichadores Alex Dalla Vecchia Costa e Ailton dos Santos, baleados por policiais militares no bairro da Mooca, Zona Leste de São Paulo, o blog Fala Kaique, em parceria com a revista Identidade Negra e colaboração da estudante de jornalismo Clarissa Zuza, conversou com alguns grafiteiros e pichadores sobre os trabalhos artísticos exercidos principalmente por moradores das periferias.

Artes de grafiteiros do extremo Leste de São Paulo (Foto: Clarissa Zuza)
O grafite é uma arte urbana iniciada no império romano. Desenvolve desenhos e escritas em muros e outros espaços que não são destinados à arte. Como é visto massivamente pela sociedade, graças às exposições em locais públicos e por não precisar, necessariamente, ir a determinado local para contemplar as obras, o estilo começou a ser usado para manifestações políticas, ideológicas e religiosas. Com isso surgiu um novo segmento: os pichadores. Estes também levam aos muros manifestos, entretanto de maneira menos artística. Com menos cores, menos desenhos e mais frases. Mas, conforme disse o grafiteiro Caio 'Mukeka', 27 anos, "os dois têm a mesma essência. É basicamente a mesma coisa".

Já para o pichador Jeferson 'Fifo', 18 anos, "o grafite é uma arte autorizada, enquanto a pichação é tratada como crime". Contudo, Caio acredita que o grafite ainda representa a arte da população marginalizada, apesar de também ser usada por políticos e empresas.

Para inibir as manifestações dos pichadores, grandes empresas e órgãos públicos pagam para coletivos grafitarem muros e prédios com desenhos que representem a instituição, sem manifestações contra opressões, violências etc. "Alguns grafiteiros estão fazendo o que o sistema quer. A intenção desses projetos, além de divulgar o politico, é usar as obras para apagar pichações e outros grafites", explicou Caio referindo-se ao investimento milionário da prefeitura de São Paulo no mural de grafite a céu aberto, na Av. 23 de Maio, que preencheu 15 mil metrôs quadrados.

O grafite é uma das artes mais importantes para os moradores da periferia, pois como conta Thiago Silva, 28 anos, que faz grafite desde 1998, ele começou para "mostrar que existe. Mostrar que não está satisfeito". O que demonstra que a falta de acesso à arte e cultura da população marginalizada desperta a vontade de mostrar, de alguma forma, que existe um artista na periferia. O pichador Stanley 'Bond' disse que ingressou no estilo porque é uma "forma de se expressar, e ajuda a superar as situações difíceis da periferia".

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