Oprimir, torturar e matar pobres que manifestam contra as ideias
dominantes no Brasil não é exclusividade do período da ditadura militar.
Hoje, 30 anos depois do fim do regime militar, artistas do grafite e pichadores
ainda sofrem a violência repressiva do Estado e da sociedade. Quase um ano
depois da morte dos pichadores Alex Dalla Vecchia Costa e Ailton dos Santos,
baleados por policiais militares no bairro da Mooca, Zona Leste de São Paulo, o blog
Fala Kaique, em parceria com a revista Identidade Negra e colaboração da
estudante de jornalismo Clarissa Zuza, conversou com alguns
grafiteiros e pichadores sobre os trabalhos artísticos exercidos principalmente
por moradores das periferias.
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Artes de grafiteiros do extremo Leste de São Paulo (Foto: Clarissa Zuza) |
O grafite é uma arte urbana iniciada no império romano. Desenvolve
desenhos e escritas em muros e outros espaços que não são destinados à arte.
Como é visto massivamente pela sociedade, graças às exposições em locais
públicos e por não precisar, necessariamente, ir a determinado local para
contemplar as obras, o estilo começou a ser usado para manifestações políticas,
ideológicas e religiosas. Com isso surgiu um novo segmento: os pichadores.
Estes também levam aos muros manifestos, entretanto de maneira menos artística.
Com menos cores, menos desenhos e mais frases. Mas, conforme disse o grafiteiro Caio
'Mukeka', 27 anos, "os dois têm a mesma essência. É basicamente a mesma
coisa".
Já para o pichador Jeferson 'Fifo', 18 anos, "o grafite é uma arte
autorizada, enquanto a pichação é tratada como crime". Contudo, Caio
acredita que o grafite ainda representa a arte da população marginalizada,
apesar de também ser usada por políticos e empresas.
Para inibir as manifestações dos pichadores, grandes empresas e órgãos
públicos pagam para coletivos grafitarem muros e prédios com desenhos que
representem a instituição, sem manifestações contra opressões, violências etc.
"Alguns grafiteiros estão fazendo o que o sistema quer. A intenção
desses projetos, além de divulgar o politico, é usar as obras para apagar
pichações e outros grafites", explicou Caio referindo-se ao investimento milionário
da prefeitura de São Paulo no mural de grafite a céu aberto, na Av. 23 de Maio,
que preencheu 15 mil metrôs quadrados.
O grafite é uma das artes mais importantes para os moradores da
periferia, pois como conta Thiago Silva, 28 anos, que faz grafite desde 1998,
ele começou para "mostrar que existe. Mostrar que não está
satisfeito". O que demonstra que a falta de acesso à arte e cultura da
população marginalizada desperta a vontade de mostrar, de alguma forma, que
existe um artista na periferia. O pichador Stanley 'Bond' disse que ingressou no
estilo porque é uma "forma de se expressar, e ajuda a superar as situações
difíceis da periferia".
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