Um dos principais assuntos nas páginas policias destes últimos dois dias está sendo a morte do camelô pelo policial militar durante operação de combate à venda de produtos piratas na Lapa, Zona Oeste de São Paulo. Ouvi e li diversas opiniões acerca do assunto, tanto em defesa, como acusando o policial militar. Os que defendem, em sua maioria, acreditam que o policial não tinha nenhuma outra opção, já que foi "atacado" pelo camelô, que tentou tirar o spray de pimenta do militar; os que acusam dizem que PM's têm extinto assassino e já é de se esperar tal atitude da Polícia Militar.
Cenas como estas se tornam cada vez mais comum: trabalhadores sendo mortos por policiais militares (que apesar de tudo também são trabalhadores). É cada vez mais nítido o despreparo dos homens assalariados com nosso dinheiro para nos defender, e evidente que o sistema adotado pelo governo na segurança pública é péssimo. É inadmissível oficiais ir com aquele tipo de armamento para uma operação contra pessoas que querem simplesmente trabalhar para sobreviver em um lugar onde o custo de vida é altíssimo.
Um dos argumentos dos defensores do oficial é que o camelô tentou tirar o spray de pimenta da mão do PM, então veio o disparo, para não perder a arma não-letal; outro é que os policiais estavam sendo pressionados pelos civis do local. Para o primeiro argumento, certamente o policial não estava com o spray na mão à toa, iria usar contra o outro camelô que já estava jogado ao chão, sendo pisado e sem poder de reação ou contra os manifestante que apenas queriam que o oprimido apanhasse menos. Já para o segundo, os civis estavam armados unicamente com as palavras de protesto contra os autoritários que lutam com armas e forças desproporcionais para tirar de trabalhadores o único meio para ganhar o pão de cada dia de forma honesta e digna.
O policial militar não pode ser visto como coitado, tampouco explicar o ato assassino como reação às manifestações geradas pelos próprios militares ao abusar do rigor na operação. Contudo, não adianta agora olhar para o policial assassino, que já está preso, e jogar nele a culpa de todo um sistema. A luta não é contra essas pessoas que vestem essas fardas e ganham o poder de disparar contra quem bem entendem, podendo matar pais e mães de famílias pelo simples fato de ter desobedecido a voz da autoridade, ou por ter tentado desarmar uma outra pessoa que tem como diferença a roupa que veste e a proteção que tem sob a lei, a luta é contra quem dá a elas esse poder.