Só os verdadeiros artistas podem levar a dura e difícil realidade ao povo da periferia. Estes verdadeiros artistas estiverem presentes e atuantes na peça Grades de Vidro, dirigida por Marcelo Masquete, apresentada no C.E.U. (Centro Educacional Unificado) Três Lagos, no Jardim Três Corações, Zona Sul de São Paulo. Com duração de aproximadamente 90 minutos, integram o elenco da obra Yasmin Alencar, Iasmin Magalhães, Jonas Thierre, Carol Noronha, Aline Kawabata, Duda Viana, Camila Odwyer e José Victor.
A peça começa contando a história de uma judia, nascida no Brasil, e foi morar na Alemanha, onde acabou sofrendo muito nas escolas que passava pelo fato de ser brasileira e, principalmente, judia. A mãe desta garota era extremamente exigente e rigorosa, entretanto a menina lutava pela liberdade, na tentativa de ser igual aos não-judeus. Em uma das escolas que estudou conheceu uma garota cristã que tinha como principal intuito mudar o mundo, livrá-lo de todo controle e opressão. Dentre todos os alunos, a cristã foi a única que tratou a judia de maneira respeitosa, sem preconceitos. As duas então fizeram um vinculo de amizade, e a cristã resolveu presentear a judia com um colar com a imagem de Jesus Cristo. Este colar não foi bem recebido pela mãe da brasileira, e então a judia resolveu seguir sua vida longe de casa na luta pela liberdade. Essa liberdade acabou quando foi obrigada a se adequar ao sistema e, por não ter outras oportunidades, tornou-se empregada doméstica.
Ao longo da história, os alunos que estudaram com a judia seguem caminhos diferentes, todavia sofrem do mesmo mal: A falta de liberdade. Esta falta de liberdade faz com que haja um novo encontro, junto a novos personagens, na cadeia. Uma das alunas que hostilizava a judia tornou-se jornalista, levou um golpe da própria judia, e foi presa porque acabou sendo obrigada a agir com a emoção e, assim, foi descartada pelo sistema perdendo a liberdade de falar o que outros querem; já a cristã foi encarcerada por tanto lutar pela liberdade em busca de seu sonho, o de salvar o mundo. E todos os outros também não eram completamente livres. Na cadeia são feitos discursos e rebeliões pela liberdade, entretanto, tudo finda na violência policial que, mesmo sem querer, obedece o que lhe é exigido: manter a ordem.
Durante todo o espetáculo, os atores e atrizes declamam frases marcantes ao público, incentivando a lutar pelos sonhos e não deixar que estes sejam criados baseado no que a massa apresenta. Ora aos professores, ora aos jovens, mas sempre o elenco buscava alertar a todos que o verdadeiro sonho não é o implantado pela televisão, pela música ou por qualquer outra pessoa, o sonho é algo individual e que não se pode massificar, transformando-o em um padrão imposto por quem tende a lucrar com eles. Esta obra sendo apresentada para quem, possivelmente, nunca antes tinha assistido uma peça teatral, ou sequer tenha visto uma história que não tenha sido contada pelos “vendedores de sonhos” é um enorme passo para a formação de crianças e jovens que veem seus sonhos sendo frustrados por não terem a condição financeira de comprá-los. A obra mostra que o verdadeiro sonho não é aquele vendido pela televisão, sim o que você tem a liberdade de sonhar e, sendo livre, realizará.